A sangue quente
Cada um numa ponta, Bolsonaro e Haddad correm contra o tempo
Antes disso, porém, vão precisar quebrar umas pedras bem duras para remover obstáculos. O de Bolsonaro, a rejeição de quase o dobro da aceitação, também duas vezes superior à da maioria dos oponentes. Ele não está em primeiro lugar por representar a tão almejada renovação. Está no topo pelo anseio de que o autoritarismo seja supostamente o garantidor da ordem, do progresso e do bem-estar.
É uma ideia de demanda restrita a um nicho. Grande, mas ainda assim limitado. Bolsonaro não tem crescido à velocidade dos cometas. Em junho tinha 17% das intenções de voto; subiu 7 pontos, enquanto ganhou rejeição em igual proporção, mesmo contando com acréscimo substancial de exposição em decorrência do atentado sofrido. Ele tem vinte dias para tentar dissolver o repúdio e transformar ao menos parte dele em aprovação. Talvez lhe faltem instrumentos para amenizá-lo sem correr o risco de perder os que o enxergam como solução exatamente por recrudescer.
Fernando Haddad não está na disputa por ser popular nem devido a quaisquer atributos pessoais e/ou profissionais. Sua vaga é a de preposto, e a essa condição parece perfeitamente adaptado. A boa notícia para ele é ter duplicado suas intenções de voto nas pesquisas depois da formalização da exclusão de Lula. Saiu do campo dos nanicos para transitar no terreno dos competitivos. Mas precisa de muito mais: atrair por osmose os eleitores do chefe.
Ocorre que esse pessoal é disputado por um rol de, no mínimo, quatro candidatos e, no máximo, por todos os outros, a depender da motivação do eleitorado, que, diga-se, não é composto só de seguidores fiéis ao poder da transmutação automática. Nesse grupo, há os crentes, mas há os racionais. É a esses que Haddad tem vinte dias para convencer de que será um poste melhor que Dilma Rousseff.*
(*) Dora Kramer – veja.com