Queimadas na Amazônia dobram no dia de decreto de Bolsonaro

As queimadas na região da Amazônia mais que dobraram (106%) no dia em que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) publicou no DOU (Diário Oficial da União) o decreto que proibiu queimadas em todo o Brasil por 60 dias. Depois Bolsonaro reviu termos do decreto, mas manteve a proibição das queimadas na Amazônia Legal. A informação foi repassada ao UOL pelo Greenpeace, que utilizou dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para calcular o número de focos de calor na região.
Bolsonaro publicou o decreto no DOU na manhã de quinta-feira (29), quando as queimadas dispararam em comparação com o dia anterior. “No dia 28 de agosto, foram 607 focos de calor na Amazônia”, informou um dos responsáveis pelo levantamento, o agrônomo Danicley Aguiar, membro da Campanha da Amazônia do Greenpeace.
A maior parte do fogo consumiu a floresta no Pará: 587 focos de calor. O estado foi seguido por Mato Grosso (371), Amazonas (209), Rondônia (67), Acre (18), Tocantins (2) e Roraima (1). Altamira (PA) foi o município campeão de focos, com 137 ocorrências.
Com 30.901 focos em agosto, as queimadas no dia do decreto foram maiores do que a média do mês por dia, que ficou em 997 focos. O volume de queimadas já é o segundo maior da década para o mês de agosto. Essa quantidade só perde para o oitavo mês de 2010, quando foram registrados 45.018 incêndios. Em relação ao ano passado, as queimadas foram quase três vezes maiores (10.421 focos), ou 196% de aumento.
“De 1º de janeiro a 29 de agosto de 2016, a taxa de queimadas na Amazônia aumentou 122%, se comparada com igual período de 2018”, informa Aguiar. Até julho foram queimados 1.862.900 hectares de mata, 60% acima do que foi consumido pelo fogo no mesmo período do ano passado.
O total de focos superou em 20% a média histórica de queimadas para os meses de agosto, que era de 25 mil. A medição média ocorre desde 1998, mas a partir de 2011 o país vinha seguindo uma tendência de registros abaixo da média histórica.
“Não se apaga fogo com decreto. Ele é importante, mas tem de estar articulado com fiscalização. Na prática, o presidente não tem esse controle” Danicley Aguiar, do Greenpeace.
Governo alterou decreto na sexta
Na sexta-feira (30), Bolsonaro alterou o decreto. Agora, a prática está liberada para ser usada por agricultores fora da região conhecida como Amazônia Legal, que compreende os estados do Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), além de parte do Maranhão e de Mato Grosso.
Na nova versão, publicada em edição extra do DOU, ele inclui um ponto que libera o emprego de fogo para “práticas agrícolas, fora da Amazônia Legal, quando imprescindíveis à realização da operação de colheita, desde que previamente autorizada pelo órgão ambiental estadual”.*
(*) Wanderley Preite Sobrinho
Do UOL, em São Paulo